A Importância dos Micronutrientes no Desenvolvimento Neurológico

Introdução

O desenvolvimento neurológico é um processo contínuo e altamente dependente da nutrição adequada, desde o período gestacional até a vida adulta. Durante as fases de crescimento cerebral, a disponibilidade de vitaminas e minerais é essencial para a formação de neurônios, mielina, neurotransmissores e para a manutenção da integridade das células nervosas (FAO/WHO, 2004).

Entre os micronutrientes mais importantes para essas funções destacam-se a vitamina B6, o magnésio, o selênio, o zinco, o iodo, o ferro e o ácido fólico. A deficiência desses elementos pode resultar em atrasos no desenvolvimento cognitivo e motor, dificuldades de aprendizado e até alterações estruturais no sistema nervoso central (BLACK, 2003).

1. Vitamina B6, Magnésio e Selênio: equilíbrio neuroquímico e proteção celular

A vitamina B6 (piridoxina) desempenha papel central na síntese de neurotransmissores como serotonina, dopamina e GABA, os quais regulam o humor, o sono e a cognição (FAO/WHO, 2004). A carência de B6 está associada a irritabilidade, confusão mental e dificuldade de concentração (BLACK, 2003).

O magnésio é um cofator essencial em mais de 300 reações enzimáticas, inclusive aquelas que regulam a atividade elétrica dos neurônios e a liberação de neurotransmissores. Segundo Brighton et al. (2013), o magnésio possui efeito neuroprotetor, pois modula a excitabilidade neuronal e reduz o risco de danos oxidativos e inflamatórios no tecido cerebral.

Já o selênio participa de enzimas antioxidantes, como a glutationa peroxidase, protegendo o cérebro dos efeitos tóxicos dos radicais livres. Estudos demonstram que o selênio está diretamente envolvido na manutenção da memória e da coordenação motora, além de reduzir o risco de doenças neurodegenerativas (GRANOLD et al., 2016).

2. Zinco: elemento essencial para a comunicação entre neurônios

O zinco é um dos minerais mais importantes para a plasticidade sináptica, ou seja, a capacidade do cérebro de criar e modificar conexões entre os neurônios. Ele atua na formação e estabilidade das sinapses, influenciando a aprendizagem e a memória (PREEDY, 2013).

Além disso, o zinco regula a expressão de fatores neurotróficos, proteínas que estimulam o crescimento e a sobrevivência das células nervosas. Crianças com deficiência de zinco apresentam redução da atenção, lentidão cognitiva e menor desempenho escolar (BLACK, 2003). Por isso, sua adequada ingestão é essencial para o desenvolvimento cerebral saudável, especialmente nas fases de crescimento.

3. Iodo: hormônios tireoidianos e maturação cerebral

O iodo é indispensável para a síntese dos hormônios tireoidianos triiodotironina (T3) e tiroxina (T4), que regulam o metabolismo cerebral e a maturação do sistema nervoso central (WHO, 2007).

Durante a gestação e a infância, o déficit de iodo pode causar atrasos mentais irreversíveis, prejudicando a memória, o raciocínio e o desenvolvimento motor (WHO, 2007). Estudos populacionais indicam que a suplementação adequada de iodo em mulheres grávidas reduz significativamente o risco de deficiências cognitivas nas crianças.

4. Ferro e Ácido Fólico: oxigenação e formação neural

O ferro é essencial para o transporte de oxigênio e para a formação da mielina, substância que reveste as fibras nervosas e garante a velocidade de condução dos impulsos nervosos. Segundo Beard (2001), a deficiência de ferro durante o desenvolvimento infantil compromete a função cognitiva e motora, podendo causar déficits que persistem até a idade adulta.

O ácido fólico (vitamina B9) é indispensável para a formação do tubo neural, estrutura embrionária que dará origem ao cérebro e à medula espinhal. A suplementação de ácido fólico antes e durante a gestação reduz drasticamente o risco de defeitos congênitos do sistema nervoso central, como a espinha bífida e a anencefalia (BERRY et al., 1999).

A associação entre ferro e ácido fólico é uma das estratégias nutricionais mais eficazes para garantir o crescimento e a função cerebral adequados, além de prevenir anemias e favorecer a produção de novas células nervosas.

Conclusão

O desenvolvimento neurológico depende de uma complexa interação entre fatores genéticos, ambientais e nutricionais. Nutrientes como a vitamina B6, o magnésio, o selênio, o zinco, o iodo, o ferro e o ácido fólico são fundamentais para garantir a formação e o funcionamento adequados do sistema nervoso central.

Esses elementos participam da síntese de neurotransmissores, da proteção antioxidante, da oxigenação cerebral e da formação estrutural dos neurônios. A deficiência de qualquer um deles pode comprometer a cognição, a memória e o aprendizado.

Dessa forma, a suplementação adequada e orientada por profissionais da saúde é uma importante ferramenta para promover o desenvolvimento cerebral pleno e prevenir distúrbios neurológicos ao longo da vida.

Referências Bibliográficas

• BEARD, J. L. Iron biology in immune function, muscle metabolism and neuronal functioning. Journal of Nutrition, v. 131, n. 2, p. 568S–580S, 2001.

• BERRY, R. J. et al. Prevention of neural-tube defects with folic acid in China. New England Journal of Medicine, v. 341, n. 20, p. 1485–1490, 1999.

• BLACK, M. M. Micronutrient deficiencies and cognitive functioning. Journal of Nutrition, v. 133, n. 11, p. 3927S–3931S, 2003.

• BRIGHTON, J. et al. Magnesium and the brain: mechanisms of neuroprotection and neurorecovery. Frontiers in Neuroscience, v. 7, p. 65, 2013.

• FAO/WHO. Vitamin and mineral requirements in human nutrition. 2nd ed. Geneva: World Health Organization, 2004.

• GRANOLD, M. et al. Selenium and the brain: a review on the role of selenium in neuroprotection and neurodegeneration. Biochimica et Biophysica Acta, v. 1863, n. 6, p. 1539–1555, 2016.

• PREEDY, V. R. (Ed.). Zinc in human health. Springer, 2013.

• WHO. Assessment of iodine deficiency disorders and monitoring their elimination. Geneva: World Health Organization, 2007.